Enecult completa 15 anos com debates sobre a cultura do ódio

A 15ª edição do Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura (Enecult) começa no próximo dia 31 de julho (quarta-feira), contando com uma programação repleta de debates, apresentações de trabalhos, lançamentos de livros e atividades culturais, até 03 de agosto (sábado). Realizado desde 2005 na Universidade Federal da Bahia (UFBA), e reconhecido internacionalmente, o evento segue como espaço para discussão sobre temas da cultura, numa perspectiva transversal e multidisciplinar. As inscrições para participar podem ser feitas até o dia 26 de julho, no link: www.enecult.ufba.br

A abertura do XV Enecult, no dia 31, será responsabilidade do escritor e antropólogo Luiz Eduardo Soares. Considerado um dos maiores especialistas em segurança pública do Brasil, ele conduzirá uma conferência sob o tema “política como experiência: ódio e as linguagens da intensidade”. No evento, ele lançará seu novo livro: Desmilitarizar; segurança pública e direitos humanos (Boitempo, 2019). O cientista político assinou os volumes 1 e 2 da série “Elite da Tropa”, obra inspiradora dos filmes “Tropa de Elite”. As ações começam às 18h, com uma abertura institucional, no auditório da Faculdade de Arquitetura da UFBA, na Federação.

Com coordenação geral dos professores doutores Adriano Sampaio e Lynn Alves, esta edição discute a cultura do ódio e medo no país, resistindo como espaço de produção conjunta. Alves comenta que, num momento onde educação, universidades, pesquisa, cultura e diversidade, em distintos aspectos, são preteridas é preciso criar os espaços para diálogo e debates, e exercitar o olhar crítico. “O diálogo é a essência do Enecult, que reúne pessoas de diferentes estados, países, gêneros, culturas. Esse encontro é fundamental para fomentar discussões e práticas que possam contribuir para reverter o quadro atual e superar as perdas atuais. Precisamos pensar e nos posicionar. Creio que o Enecult abre esse espaço de discussão, critica e luta”, diz.

Mesmo voltada a refletir sobre os desdobramentos do ódio e intolerância no Brasil, a programação do Enecult traz minicursos, simpósios e relatos, atingindo uma variedade de temas relacionados às culturas, indo de games até gestão cultural, passando pela política e diversidades sexuais. Além disso, durante os dias de encontro, 387 artigos serão apresentados em 19 grupos de trabalho, abordando os fenômenos da cultura.

Minicursos, simpósios e relatos: trocas e aprendizados

A partir do dia 1º de agosto, serão muitos momentos para a construção colaborativa de conhecimento nos minicursos, simpósios e relatos de experiências. Os inscritos no XV Enecult podem participar de, no máximo, um simpósio, um minicurso e três relatos de experiências. Os momentos servem para aprofundar temáticas distintas, a partir da contribuição de várias abordagens profissionais e teóricas.

Neste ano, o campo dos games abre espaço na programação com atividades que vão atrair os já interessados na temática, ou apresentá-la para os que conhecem pouco. Enquanto o simpósio “A indústria de jogos digitais no Brasil: políticas, programas e ações” debate as iniciativas que vinham sendo implementadas pelo governo federal ao longo dos últimos cinco anos, o encontro no relato de experiências “Sou mulher e sou desenvolvedora de games” discute o lugar da mulher num campo, com seus desafios, preconceitos e conquistas. Além disso, o minicurso “Artes, games e cultura” investe em exemplos práticos vivenciados no mercado e na academia.

Já o Núcleo de Cultura e Sexualidade (NUCUS) coordena o minicurso “Cuíerlombismo literário: cultura, literatura e afrodiasporicidade sapatão”, além do simpósio “A arte como potência de si”. Os dois, de algum modo, propõem a discussão do papel da arte na construção de projetos micropolíticos de resistência, reação e subversão, além da disseminação das expressões culturais LGBTQI+ e suas transversalidades.

A política e a cultura são abordadas pelo professor e ex-secretário de cultura da Bahia, Albino Rubim, que trata sobre as complexidades dos temas no minicurso “Desafios e dilemas da gestão cultural” e no simpósio “Cultura e política no velho Brasil atual”, neste último ele estará ao lado de José Sérgio Gabrielli de Azevedo (UFBA) e Renato Ortiz (Unicamp). Outros temas, expressando a multidisciplinaridade, também estarão no evento: o financiamento coletivo, a capoeira, a diversidade cultural, dentre outros. Os detalhes podem ser conferidos no link: www.cult.ufba.br/enecult/programacaoxv

Programação cultural
No primeiro dia de evento, às 18h, a performance “Banho de sangue”, da artista Luzia Marques, abre a grade de atrações culturais, na Faculdade de Arquitetura da UFBA. A apresentação denuncia a violência contra mulher no Brasil, expressa nos altos índices de feminicídio. Já no dia seguinte, 1º de agosto, a arena da nova sede do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências Professor Milton Santos (IHAC) será ocupada, às 18h30, pela obra “Transplante de subjetividade”, do Grupo de Pesquisa Poéticas Tecnológicas: Corpoaudiovisual.

Na sexta-feira, 02 de agosto, também na arena do IHAC, acontecerá uma apresentação de vídeo mapping sob a coordenação de Francisco Barreto, a partir das 17h30. Nessa mesma noite, uma série de novos livros serão lançados no XV Enecult. Na lista de 27 publicações, estão títulos, como: “O universo do luxo”, de Renato Ortiz; “Cultura e Políticas Culturais”, de Albino Rubim; “Marca lugar, comunicação e cultura”, de autoria dos professores Adriano Sampaio, Claudiane Carvalho, Inês Martins e Lidiane Pinheiro; “Artivismo das dissidências sexuais e de gênero”, de Leandro Colling; dentro outros.

No sábado, dia 03, das 14h às 17h, o projeto “Crianças na UFBA” deixa a Praça das Artes, em frente ao PAF III (Campus Ondina), ainda mais animada. A iniciativa valoriza a ocupação do espaço universitário pelas crianças, seja da comunidade acadêmica ou não, promovendo atividades lúdicas e incentivando a liberdade num convívio coletivo. Vale destacar que, entre os dias 1º e 03 de agosto, na mesma praça, o público poderá circular pela Feira da Associação de Artesãos da Bahia (ADABA), com vários trabalhos e produtos à mostra para compra dos visitantes. Nas proximidades da feira, entre 1º e 02 de agosto, às 13h, acontecerão encontros de “Yoga do Riso”, num toldo das práticas integrativas complementares à saúde. Ali mesmo, acontecerá prática de meditação no sábado, dia 02 de agosto, a partir das 8h.
FORCULT
Nesta 15ª edição, o Enecult também receberá o Fórum Nacional de Gestão Cultural das Instituições de Ensino Superior (Forcult). O fórum surgiu no ano de 2017, a partir da iniciativa de diversos agentes responsáveis pela gestão da cultura nas instituições, no intuito de refletir sobre papel das iniciativas e ações culturais nos campi ao redor do país. Os participantes contam com espaço e integração ao XV Enecult para articulação dos seus grupos de trabalho e formulação de propostas.

Campanha de financiamento
Mesmo num cenário de cortes de recursos na educação e cultura brasileiras, o Enecult resiste e, para manter a infraestrutura adequada e qualidade das edições realizadas nos últimos 14 anos, lança uma campanha de financiamento coletivo intitulada: Menos Ódio, Mais Cultura (www.benfeitoria.com/enecult). Até o dia 25 de julho, é possível colaborar, na Benfeitoria, para que o XV Enecult aconteça com uma programação em diálogo com o contexto sociocultural brasileiro. Os valores arrecadados equivalem a recompensas para os benfeitores. A lista detalhada dos benefícios pode ser conferida na plataforma Benfeitoria. Vale destacar que o modelo de financiamento coletivo exige que a meta seja atingida para que, só assim, o valor seja disponibilizado.

A mobilização para criar uma campanha de financiamento coletivo nasceu da escassez de alternativas para obtenção de recursos que viabilizem o Enecult, por conta da série de corte de verbas nas universidades e institutos federais; além das reduções nos orçamentos das instituições de fomento à pesquisa, como o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).

SOBRE O ENECULT
Ao longo dessa década e meia, mais de oito mil participantes já passaram pelo evento, mais de três mil trabalhos foram apresentados, além da presença de 215 convidados nacionais e 50 nomes internacionais. Importantes políticas públicas para o campo da cultura brasileira, foram implantadas a partir de debates no Enecult, como os Pontos de Cultura, o Sistema Nacional de Cultura e Planos Municipais de Cultura, por exemplo. Iniciativas como essas nasceram do compromisso com a geração de conhecimento, contando com pensadoras e pensadores da cultura no país, a exemplo de Lia Calabre, Isaura Botelho, Albino Rubim, Leandro Colling, Renato Ortiz, Juca Ferreira, Gilberto Gil, Paulo Miguez, entre outros.

SERVIÇO
PROGRAMAÇÃO COMPLETA
XV Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura (Enecult)
Quando: 31 de julho a 03 de agosto
Onde: Universidade Federal da Bahia (UFBA)
www.cult.ufba.br/enecult

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