Um diagnóstico das ciências humanas no Brasil

Um diagnóstico das ciências humanas no Brasil

Por Isadora Araújo Santos

Membros do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), organização sem fins lucrativos ligada às ciências, tecnologia e informação, e da Fundação Casa de Rui Barbosa (FCRB), instituição que busca contribuir para o conhecimento da diversidade cultural, vieram ao encontro da comunidade científica presente no Relatos de Experiência deste sábado, 3 de agosto, para apresentar resultados de um diagnóstico realizado pelo CGEE sobre o Perfil das Ciências Humanas no Brasil, bem como um apanhado das investigações realizadas no âmbito de atuação da Cátedra Unesco de Políticas Culturais e Gestão Cultural, sob a responsabilidade da Fundação Casa de Rui Barbosa. O relato foi coordenado pelos professores da Faculdade de Comunicação da UFBA, Leonardo Costa e Renata Rocha.

Marcelo Paiva (CGEE) apresentou um conjunto de levantamentos de dados extraído do Banco de Teses da Capes sobre a atividade de produção de teses de Doutorado em 27 áreas das Ciências Humanas Sociais Aplicadas e destacou a importância não apenas do mapeamento desse conhecimento, mas, sobretudo, de se descobrir formas efetivas do uso social do saber científico. Sobre isso ele disse: “O que fazer com esse conhecimento? Essa pergunta não é fácil e eu não pretendo responder de maneira nenhuma. Vamos esquecer os mapeamentos, que são, na verdade, acessórios. O que nós estamos buscando é saber: pra onde esse conhecimento vai?”.

Mayra Juruá (CGEE) explicou que esse projeto dedicado ao mapeamento da produção de conhecimento das Ciências Humanas do país surge de uma demanda da comunidade científica, que junto ao Ministério, deseja expressar sua importância para que as políticas públicas voltadas às humanidades sejam revistas e repensadas. Os resultados apresentados pela pesquisadora demonstraram a importância da contribuição das Ciências Humanas Sociais Aplicadas, Linguística, Letras e Artes para o desenvolvimento do país e das políticas públicas de ciências e tecnologia. Sobre isso, completa: “Não achamos que a arte e a ciência devam estar subordinadas a uma utilidade. Mas, para adicionar um argumento em um momento em que é cobrada alguma utilidade, dizemos que além da arte, da cultura e da ciência e tecnologia serem importantes porque dignificam o ser humano, elas ampliam nosso autoconhecimento, servem sim para a dinamizar a economia, gerar inovação tecnológica, para contribuir para o desenvolvimento do país”.

O panorama desenvolvido pelo projeto aponta para a relação entre as pesquisas realizadas e suas fontes de financiamento em função de políticas de ciências e tecnologia a fim de mostrar relações diretas de contribuição. Os resultados mostraram que os investimentos são necessários, surtem efeito e afetam as inovações necessárias ao futuro. “Existe produção científica para todos os campos do desenvolvimento científico e tecnológico determinados como estratégias pelo Estado brasileiro”, complementou Mayra Juruá, enquanto defendia a interdisciplinaridade do conhecimento científico.

Ao falar sobre o modo como se desenvolvem os estudos, trajetórias e dinâmicas dos estudiosos em políticas culturais na FCRB, Lia Calabre explicou tendências de produção dos pesquisadores em trabalhos que circularam pelo instituto nos Seminários da Fundação Casa Rui Barbosa e refletiu: “a partir dos trabalhos apresentados na Fundação, podemos começar a discutir e começar a montar o desdobramento das políticas culturais nos municípios, bem como entender o tensionamento entre a ação do Estado e a autonomia da sociedade civil nas políticas culturais e questionar a inclusão e exclusão de ações e de atores sociais nesse processo. Política é cultura e desenvolvimento para quem? Os trabalhos apresentados nos Seminários podem nos ajudar a construir um mapa de situação da discussão das Políticas Públicas no Brasil”.