Reflexões sobre história, luta e desafios marcam primeiro dia do simpósio Capoeira: Salvaguarda e Sustentabilidade

Reflexões sobre história, luta e desafios marcam primeiro dia do simpósio Capoeira: Salvaguarda e Sustentabilidade

por Larissa Costa

O Auditório 1 do PAF V acomodou com conforto os ouvintes do simpósio Capoeira: Salvaguarda e Sustentabilidade, realizado nesta quinta-feira (9), mas se tornou pequeno diante das histórias de luta pela capoeira que ali foram contadas. Somente na mesa, composta por Antônio Carlos Gomes, o mestre Tonho Matéria, Rosângela Costa, mestra Janja, Josivaldo Pires, mestre Bel, o mestre Bené e o mediador Eduardo Carvalho, o mestre Duda, se somava mais de um século de rodas.

Para o debate, os mestres trouxeram suas experiências na proteção da capoeira e seus empenhos pessoais para torná-la um modo de subsistência. Com a participação de outros capoeiristas na plateia, questionou-se o limite para a mercantilização dos produtos dos grupos e a salvaguarda da capoeira pelas novas gerações.

“Quem hoje consegue citar três mestres que podem largar seus empregos e viver apenas da capoeira?”, questiona mestra Janja. Primeira mulher a fundar uma organização de capoeira, a mestra contou as formas encontradas para tornar o Instituto Nzinga autossustentável. Além do financiamento através da plataforma de crowdfunding Catarse, os membros do instituto produzem canecas, garrafinhas de água e camisas para venda. “Isso nos tem permitido muita autonomia ao realizar nosso trabalho”, conta. Por sua vez, o mestre Tonho Matéria relata que levou essa prática aos palcos em suas apresentações. “Os capoeiristas disseram que eu estava mercantilizando a capoeira”.

Para mais da vivência nas rodas e nos projetos, mestre Bel e mestre Bené apresentaram a perspectiva da salvaguarda pelos estudos acadêmicos. Mestre Bel relembra sua trajetória no mestrado, quando tomou a capoeira como protagonista de seus estudos. “Produzir ciência tinha outro sentido além de conseguir títulos. Um tempo depois eu percebi que aqueles textos eram um exercício de salvaguarda”.   

A pesquisa acadêmica de mestre Bené o levou a questionar a parceria do Estado na sustentabilidade da capoeira. “O Estado nunca ajudou muito. E quando ajuda é em forma de edital, que são migalhas”, opinião compartilhada entre os demais da mesa.   

Apesar das discordâncias entre a plateia e a mesa quanto à ausência dos mestres mais antigos no simpósio, cada capoeirista tinha uma história de transformação pela capoeira. Mestre Tonho Matéria fala que “a capoeira é vida e me fez cidadão”. Presente como debatedora, a contramestra Lilu, Luísa Pimenta, relata que foi a capoeira quem lhe ensinou o que é liberdade. O evento se estendeu um pouco mais que o previsto, mas pareceu insuficiente para que os presentes pudessem compartilhar suas histórias.  

O Simpósio é uma iniciativa do Observatório da Economia Criativa, coordenado por Daniele Canedo (UFRB), Eduardo Carvalho, o mestre Duda, e Ricardo Khouri, o contramestre Calango.

Foto de Dan Figliuolo