Performance sobre feminicídio abre o XV Enecult

Performance sobre feminicídio abre o XV Enecult

Por Thais Felix

Na noite do dia 31 de julho, às 18h, o XV Enecult deu largada às suas atividades com a apresentação da performance “Banho de Sangue”, da artista Luzia Amélia Marques, de Teresina (PI). A performance trouxe ao público um momento tenso e recheado de expectativas sobre o que viria a cada instante. Luzia traduziu muitas dores em arte. Usou seu corpo de mulher negra nordestina como instrumento de provocação e ação trazendo o tema do feminicídio à tona, banhando-se de um líquido vermelho como sangue.

Mulheres negras, jovens negros, indígenas, quilombolas e todos que vivem em estado de vulnerabilidade tem seus corpos continuamente banhados pelo seu próprio sangue, vítimas de uma violência cultural que fundou esse país. E todos os dias é possível ver nos jornais, redes sociais, e outros meios de circulação de notícias os discursos que remontam esses genocídios.

Pouco a pouco a artista fez a plateia se calar e mostrou, com seu corpo, a dança e o silêncio, como é estar banhada de sangue. Ela protagonizou a narrativa, mostrando que a dança comunica e que é muito potente. A apresentação não continha muitos elementos, era a dançarina com seu vestido branco, um balde cheio de sangue e seus movimentos.

Ao final, Luzia subiu as escadas da Faculdade de Arquitetura da UFBA e foi se aproximando das pessoas, toda suja, pingando sangue e deixando pegadas por onde passava. Ao chegar mais perto de uma das pessoas, esta deu um passo para trás e Luzia disse: “Eu não vou te sujar, eu prometo”. Nesse momento ficou nítido como é que se vive quem é banhada de sangue: sozinha e com cuidado para não sujar quem está a sua volta, e quem está a sua volta se esquiva, hesita, porque está limpo demais para se sujar. Essa cena responde como nós ainda vivemos em uma sociedade que estruturalmente é forjada e sustentada do derramamento de sangue de pessoas com cor, endereço e sexo específico. Nós que temos o privilégio de permanecer vivas e vivos e sem sangue derramado não nos banhamos do sangue que caiu.

O XV Enecult inicia com uma abertura tocante, real e sincera e trazendo o tema central do evento da Cultura do Ódio. A performance combinou com a fala que se seguiu do escritor e antropólogo Luiz Eduardo Soares que entre outras coisas falou de como o sistema penitenciário e policial mantem e aprofunda o racismo estrutural e desigualdades do Brasil.

Veja fotos de Marco Correia: