O ensino e a difusão da capoeira foi debatido no XV Enecult

O ensino e a difusão da capoeira foi debatido no XV Enecult

Por Daiane Oliveira e Giovanna Hemerly

Com o desafio de ensinar capoeira na era digital valorizando a ancestralidade e saberes que nem sempre são acadêmicos o “Simpósio Capoeira: Salvaguarda e Sustentabilidade” entreteu a todos que estiveram nesta sexta-feira e sábado, no Auditório PAF III, localizado no Campus de Ondina.
Capoeirista a pouco mais de 15 anos, Daniele Canedo, professora da UFRB é mais conhecida no meio como Pimentinha, e é uma das organizadoras deste simpósio. Já na abertura Daniele explicou a escolha dos temas que seriam abordados nos dois dias de apresentações.

“Esse ano nós decidimos fazer esse evento com dois temas que achamos relevantes que é a capoeira nas escolas e a comunicação na capoeira. Por quê que estamos falando disso? Por quê não fizemos um debate sobre ancestralidade e outras questões que também são relevantes? Porque a gente entende que ainda há uma lacuna para a gente discutir a capoeira daqui para frente. Pensar em ancestralidade e salvaguarda, mas também nessa salvaguarda daqui para frente. O mundo mudou, o mundo está mudando e como é que a gente garante a perpetuação, salvaguarda, das coisas que a gente acredita na nossa capoeira daqui para frente. Então, a gente precisa saber como essa capoeira chega nas escolas”, diz Daniele Canedo.

E frente às mudanças ocorridas nos últimos anos na área da tecnologia da informação e da comunicação, a capoeirista ressaltou durante o segundo dia do simpósio, a necessidade, tanto de preservação da memória cultural da capoeira quanto a difusão do conhecimento acumulado pelos mestres ao longo dos anos.“O que acontecerá com a capoeira se a gente não souber se relacionar com esses meios? Como vai ser a nossa presença nesses meios e o que a gente já tem feito?”, questionou Canedo. E diante dos questionamentos levantados, mestres e pesquisadores apresentaram durante o simpósio algumas alternativas para a interação entre a capoeira e os novos recursos tecnológicos. “A gente traz hoje aqui por exemplo, quatro propostas que estão relacionadas com a capoeira na internet: um curso online de formação na área da capoeira, um site proposto de tour virtual pelos pontos históricos da capoeira, temos um programa de rádio e um aplicativo”, contou Daniele.

Contudo, desenvolver projetos que tragam novos diálogos entre a capoeira e as novas conjunturas requer um trabalho multi e interdisciplinar. Para o Contramestre Calango, Ricardo Khouri, o espaço da universidade é extremamente importante para se trazer atores sociais e pessoas que compõem outros universos que não necessariamente o da capoeira. “O que a gente almeja daqui a alguns anos, mantendo esse simpósio da capoeira, é que consigamos agregar mais e mais outras pessoas, outros responsáveis pela sociedade de maneira geral. Que se possam incluir políticos, pedagogos, que seriam importantes para uma discussão desse nível”, comenta Calango.

Para Calango, o espaço da universidade é extremamente importante para se trazer atores sociais e pessoas que compõem outros universos que não necessariamente o da capoeira. “O que a gente almeja daqui a alguns anos, mantendo esse simpósio da capoeira, é que consigamos agregar mais e mais outras pessoas, outros responsáveis pela sociedade de maneira geral. Que se possam incluir políticos, pedagogos, que seriam importantes para uma discussão desse nível”, comenta Calango.

Capoeira para o resgate da identidade
O Mestre Duda, Eduardo Carvalho, considera o tema da capoeira nas escolas algo presente e urgente. Afinal, através da capoeira também é possível falar sobre história, reconhecimento identitário e valorização de sua cultura. “É de conhecimento de todos, eu diria de todos que tenham interesse em conhecer a capoeira, que as primeiras políticas públicas de fato para capoeira foram de criminalizar. Na medida que a gente começa a perceber esses potenciais pedagógicos da capoeira, eu acredito que isso vem muito do conhecimento amplo da literatura e da pesquisa acadêmica por falar e tratar disso, a gente não pode negar os dois sentidos” comenta Duda ao falar que a capoeira também é importante para reconhecimento e/ou resgate de identidade.

A contra-mestra Carol, Caroline Figueiredo, que é educadora física e possui um projeto de trabalho com a capoeira nas escolas, trouxe para o evento sua forma de atuação na capoeira promovendo nos alunos um resgate de identidade e conhecimento da sua história para que possam assim preservá-la.

“A gente sabe que estamos em uma cidade, em um estado, onde a maioria da população é negra e a gente vive muito essa questão do racismo na sociedade. E quando a gente tem isso dentro de casa, essa confusão de identidade, quando essa identidade se perde a gente perde também dentro da história da capoeira. Então, dentro da minha pesquisa o que eu pude dar de contribuição e também aprender é passar para os meus alunos o resgate e a aceitação dele como ele é.”, completa a contra-mestra Carol. Ela ainda explica que o resgate da identidade é um conjunto de questões e o trabalho se dá de forma gradativa. “Tem mães e pais que contribuem para a questão de identidade, mas tem outros que a gente precisa estar trazendo para dentro da sala, para nossa turma de capoeira. A questão da musicalidade que eu acho sensacional e vai muito além do que a gente tem, faz uma abordagem de cura na vida dessas crianças, mas de uma forma que a gente possa respeitar o limite de cada um”, afirma.

Quebrando o protocolo e sentado no chão do palco, o Mestre Ferradura, Omri Breda, comentou a sua relação com a capoeira no Rio de Janeiro e destacou a importância de valorizar os saberes que não estão apenas na academia, até como forma de reconhecimento da sua cultura. “É importante pensar qual a função da capoeira aqui na academia já que estamos ocupando esse espaço finalmente, além de tantos outros. E esse modelo de ter uma mesa e estar distante e não estarmos em uma roda ocupando a mesma altura já diz alguma coisa, uma mesa majoritariamente masculina diz alguma coisa, ”, comentou Ferradura.

O simpósio também trouxe Mestre Bocão, Fernando Ennes, para compartilhar as suas vivências em Minas Gerais. Além de Pedro Abib e o Mestre Soldado, Neuber Costa, que são de Salvador.
Para o participante do simpósio Vinícius Natal, Doutor em Antropologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o Enecult é excelente pela sua proposta multidisciplinar. “Esses conhecimentos transversais acabam que enriquecem muito. No meu caso, esse simpósio de capoeira é importante, pois trabalho com a questão de patrimônio material com o samba carioca e a capoeira está nessa discussão, então é bom ouvir os colegas para ver quais os debates que estão acontecendo”, comenta Vinícius.