Entre o mercado e a inclusão: segundo dia do simpósio Diversidade Cultural e Desenvolvimento Sustentável

Entre o mercado e a inclusão: segundo dia do simpósio Diversidade Cultural e Desenvolvimento Sustentável

por Larissa Costa

Seguindo o debate do primeiro dia, o simpósio Diversidade Cultural e Desenvolvimento Sustentável levou, nesta quinta-feira (10), ao auditório da Facom o debate sobre economia solidária, sustentabilidade, diversidade cultural e direito à cidade. Na mesa, intitulada “Redes, boas práticas e cidades sustentáveis”, estavam Genauto França (UFBA), Luana Vilutis (UFBA/ Observatório de Diversidade Cultural – ODC) e Eduardo Sarmento (Instituto de Desenvolvimento e Gestão/ Paço do Frevo). O coordenador-geral da Comissão de Cultura da Organização Internacional de Cidades e Governos Locais Unidos (CGLU), Jordi Pascual, não pôde participar, mas enviou vídeo com suas colocações. O evento foi mediado pelo professor da UFBA e membro do ODC, José Márcio Barros.

Em sua exposição sobre cultura e desenvolvimento sustentável nas cidades, Jordi explicou a noção de desenvolvimento sustentável como aquele que permite às gerações atuais utilizar os recursos pensando nas gerações seguintes. Baseando-se em seu trabalho no CGLU, sua fala trouxe o conceito de desenvolvimento sustentável como apoiado em quatro pilares: crescimento econômico, inclusão social, meio ambiente e cultura. “Não existe desenvolvimento sustentável sem a cultura. Esse desenvolvimento não está levando em conta variáveis fundamentais para o desenvolvimento das pessoas”, critica.

A segunda sessão da mesa aprofundou-se na temática da economia solidária e da sustentabilidade. Professor e coordenador da Incubadora Tecnológica de Economia Solidária e Gestão do Desenvolvimento Territorial (ITES/ UFBA), Genauto França trouxe perguntas-chave para se pensar em formas de sustentabilidade que não se encaixam na lógica mercantilista. “Como trabalhar práticas que revelam-se sustentáveis, porém não são viáveis economicamente?”. As iniciativas da economia solidária, assim, não têm apenas uma dimensão econômica, mas também possuem dimensões ambientais e políticas e, segundo o professor França, precisam ser articuladas em rede.

Partindo dessa linha, Luana Vilutis trouxe seu aprendizado no contato com comunidades indígenas para a mesa. “Quando a gente fala desse aspecto cultural da sustentabilidade, autodeterminação e autonomia são fundamentais. É a possibilidade das comunidades e culturas decidirem e construírem aquilo que elas consideram necessário, sem uma assimetria de condições”.

Além destas temáticas, a segunda sessão da mesa também se aprofundou nas políticas culturais e no despreparo das políticas de fomento e incentivo estatais para lidar com as práticas da economia solidária. Na terceira sessão, Eduardo Sarmento utilizou-se de sua dissertação sobre o movimento #OCUPEESTELITA para aprofundar-se nas noções de direito à cidade, festejos e política.

O movimento nasceu da privatização do Cais José Estelita e da tentativa de reformar o cais com edifícios, em 2014. Desde então, boa parte da população recifense se uniu na defesa deste patrimônio. A pesquisa de Sarmento estuda também o papel da cidade enquanto cenário deste embate entre valores distintos e como a causa fez aflorar diferentes formas de fazer política. “(David) Harvey fala que há algo de político no ar das cidades lutando para se expressar. A cidade também é um espaço de contestação, um encontro da rebeldia”.

A fala de encerramento do professor José Márcio sintetiza as noções debatidas durante a última manhã do XIV ENECULT. “Sustentabilidade tem a ver com troca, é um campo da pluralidade”, e, como vimos durante estes últimos dois dias, não há campo mais plural que a cultura.

Foto de Dan Figliuolo