Albino Rubim discute problemáticas vigentes da gestão cultural

Albino Rubim discute problemáticas vigentes da gestão cultural

Por Maria Gabriela Vidal

O que torna a gestão cultural tão distinta das demais? Como não restringir a cultura apenas em seu aspecto econômico? Como falar de transversalidade da cultura com outros campos sociais? Estes foram alguns questionamentos pautados no minicurso ocorrido hoje, no Auditório do PAF III, ministrado pelo especialista e pesquisador na área de políticas culturais Albino Rubim, que também foi secretário de cultura da Bahia.

Logo de início, Rubim salienta que o conteúdo do minicurso está presente em um livro, o qual ele foi o organizador, da Coleção Sala de Aula, sendo este uma compilação de textos de experiências sobre a gestão cultural que será lançado no Enecult deste ano. A partir disso, expôs ao público que os dilemas e desafios trazidos se aplicam diretamente à gestão pública, podendo ou não, coincidir com as problemáticas no setor privado. De forma muito sincera, Rubim confessa que os desafios são múltiplos e os dilemas enfrentados na gestão cultural são enormes, em suas próprias palavras: “Dificilmente o minicurso daria conta de tudo.” A partir disso, o ministrante seguiu um fio condutor que perpassou por questões complexas, as quais demonstram a urgência de se pensar o campo cultural para além dos moldes previstos.

Para Rubim a complexidade da gestão cultural deriva da própria cultura ser complexa, ao passo que se lida tanto com pessoas amadoras, como também com artistas profissionais, dos mais diversos segmentos. Torna-se indispensável que “a gestão cultural reconheça a complexidade da cultura”, sendo este um primeiro aspecto fundamental. É dever do gestor sensibilizar os setores de governo e sociedade, visto que, não há a compreensão da cultura como essencial e sim, secundária. “Nosso dever é fazer com que as pessoas entendam a cultura como central no desenvolvimento. É papel do gestor mostrar as conexões entre cultura e desenvolvimento”, acrescenta.

Em sua apresentação, Rubim segmenta algumas conexões vitais entre a cultura e alguns campos tais como: política, governo e o próprio campo cultural, dentre outros.

Sobre as relações entre Cultura e política, o professor falou que política e cultura tem temporalidades distintas. “Os governos querem ter projetos que dentro de quatro anos mostrem efetividade para a população. É uma temporalidade curta. Não há como o gestor cultural não ponderar isso. Mas a temporalidade da cultura é longa, o produto deve ser um processo de amadurecimento de um grupo cultural, nossos prazos não são tão curtos.”

“É importante que as demandas culturais sejam coletivas, exemplo: uma decisão do campo do audiovisual não deve afetar apenas uma parcela desse campo e sim, o todo. É papel do gestor deslocar essa individualidade para o coletivo”. Ouvir e ter diálogo com todos os setores é papel do gestor cultural.

Outro desafio para um gestor é a relação com outras áreas de gestão e do conhecimento. “Relações com outras áreas do governo, para além das culturais, é cada vez mais importante buscar a transversalidade nas interações. Se queremos valorizar a cultura é necessário saber lidar com setores que parecem distantes da cultura, nós podemos ter projeto que sejam de interesse de ambos os setores. É um desafio constante, o gestor deve ter capacidade de ampliar essas relações.”

Em suas últimas considerações, Rubim esclarece que umas das primeiras coisas as quais o gestor cultural deve pensar são diretrizes básicas tais como: “Para onde eu quero ir? O que deve ser mudado e o que deve ser mantido? O problema das políticas culturais é a abstração. É necessário traduzir essa abstração em algo concreto: como vou fazer isso acontecer?”.

Um ponto alto do minicurso foram as perguntas feitas ao final da exposição. Ao questionado sobre a Cultura nas universidades, Rubim falou sobre o fato das próprias universidades não se reconhecerem como instituições culturais. Para ele, toda a dificuldade tratada até aqui tem neste ponto o seu início, pois muitas vezes nem a própria universidade reconhece que faz cultura.

O público ouviu atento e interagiu ao final, não sendo uma manhã suficiente para um debate que ao que parece, está longe do fim.